domingo, 28 de agosto de 2011

A turma do primário bem feito

"A partir de 2007, a mesma política pública adotada em Sobral para a educação foi bancada pelo Estado em todos os municípios do Ceará. Os resultados já se fazem presentes"
Na década de 80, o grande desafio na educação do Ceará era a universalização da matrícula. A cultura da educação escolar não estava impregnada na sociedade, principalmente nas camadas sociais mais populares. Além disso, a infra-estrutura escolar não permitia o atendimento de todos. No fim das contas, o analfabetismo era a terrível praga que sugava as chances de desenvolvimento do Estado.
Após imenso esforço do setor público, o Ceará conseguiu universalizar a educação. Criança fora da escola passou a ser um problema pontual, muito mais por irresponsabilidade de alguns pais. Porém, estudante na sala de aula não é sinônimo de qualidade no ensino.
Veio a nova praga: milhares de estudantes matriculados, mas incapazes de ler e compreender um texto básico. O problema foi percebido já no início da década de 90. Ciro Gomes era o governador. Veio então a tentativa de se fazer “uma revolução na educação”. O próprio Ciro reconheceu que esse foi o grande fracasso de sua gestão.
A quantidade de investimentos na educação se manteve sempre crescente, mas, diante das necessidades, os resultados ainda se revelavam pífios em seguidos governos.
O gargalo da qualidade se dava no ensino fundamental, na faixa etária entre seis e sete anos. É a idade decisiva. Se nesse momento a criança não aprender a ler e a entender o que está lendo, o resultado é a deformação (do ponto de vista da educação) do adolescente e do adulto.
O problema é que o ensino fundamental está sob a responsabilidade dos municípios. E aí sabemos bem o que, em média, acontece: gestores sem compromisso, corrupção, escolas desestruturadas e toda sorte de pragas que infestam esse ramo.
Sobral rompeu com esse ciclo. No início da atual década, a cidade fez uma avaliação do nível de leitura dos alunos da rede pública. Catástrofe: mais de 50% simplesmente não sabiam ler. Daí nasceu uma política focando principalmente o estudante na faixa até os sete anos. Em poucos anos, os resultados chegaram e se tornaram referência para o que mais tarde se faria no âmbito estadual.
Em 2010, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) avaliou o desempenho de 43.400 escolas de todo o País na faixa entre o 1º e o 5º ano. Com nota 6,6 (a meta nacional para 2021 é 6), Sobral ficou na primeira colocação dentre todas as escolas do Nordeste. No ranking nacional, a cidade ocupou a 109º posição entre os mais de cinco mil municípios brasileiros. Nada mal.
UMA QUESTÃO DE FOCO
A partir de 2007, a mesma política pública adotada em Sobral foi bancada pelo Estado em todos os municípios do Ceará. O programa recebeu o nome de Programa de Alfabetização na Idade Certa.
Os resultados já se fazem presentes. Os dados do Ideb 2009 mostram que o Ceará foi o estado que mais melhorou o desempenho no ensino fundamental e médio. Com média de 3,6 no Ideb, é a melhor nota do Nordeste e o único estado da Região entre os dez melhores no ranking nacional.
Talvez seja esse um dos temas que o governador mais gosta de falar. Conversei com Cid Gomes (PSB) na tarde de sexta-feira, por telefone, logo após a edição do Governo Itinerante em Missão Velha.
Há algo de especial na política de educação? “Não. É só o feijão com arroz”, diz o governador. O problema é que esse “baião de dois” é coisa rara em políticas públicas. E de que se trata? “Foco no que importa. Nada mirabolante e que não seja de domínio universal. Educação é português e matemática em escolas com boa estrutura, merenda, conforto básico para o aluno e professor em sala de aula dando aula”.
“A premissa básica é a alfabetização, esta obviedade que não costumava ser alcançada. O Paic chegou focado nesse objetivo”, disse o governador. Outras ferramentas: “Perseverança, acompanhamento cotidiano, sem descanso. Precisamos assegurar os 200 dias letivos ao ano, com o aluno e o professor em sala de aula, com a escola funcionando bem”, argumenta Cid.
Manter o Paic é caro? Não, não é. O custo do Paic para os cofres do Estado é de apenas R$ 50 milhões ao ano. Pouco para os padrões de hoje, com obras públicas que beiram o bilhão.
O governador lembra que o programa estabelece premiações para as escolas com melhores resultados ao mesmo tempo em que incentiva as de pior desempenho. “A premiação das melhores cria uma cultura meritória que contamina a escola. Ela vira uma referência a ser replicada”.
Em tempo: a experiência piloto de Sobral é reproduzida no Estado pelas mesmas cabeças. No caso, o chefe de gabinete Ivo Gomes e a secretária Izolda Cela.

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